Em uma terça-feira, 19 de outubro de 1971, aos 14 minutos do primeiro tempo da prorrogação, o gol do rubro-negro Luizinho colocaria o Estado de Goiás no cenário nacional do futebol. Tivemos ainda mais 15 minutos segurando o resultado e então o Atlético Goianiense sagrou-se Campeão do Torneio da Integração Nacional e foi notícia em todos as Revistas Nacionais de Esporte e nos Jornais de São Paulo, do Rio de Janeiro e do Distrito Federal. A Competição durou mais tempo do que uma Copa do Mundo, mais de um mês, teve duas cidades sede, trinta e nove jogos, setenta e sete gols, contou com 16 clubes de 11 Estados diferentes, fases classificatórias e depois eliminatórias.
50 anos depois não sai da cabeça dos que lá estiveram (ex-jogadores, cronistas, árbitros, torcedores, imprensa local e nacional…) a imagem daquele Estádio Olímpico lotado, em que não cabia nem mais uma única pessoa, tomado de rubro-negro, onde se ouviam somente os gritos da torcida atleticana e o bumbo do torcedor símbolo Maurício “Respeita as Cores”… naquele jogo pegado entre a então vice campeã paulista, Ponte Preta, do goleiro de Copa do Mundo Waldir Perez, dos craques Mosca, Manfrine e Nelsinho Baptista e o Dragão de Paguetti, Raimundinho, Ronaldão, Dádi e Zé Geraldo.
É com muito orgulho que o Atlético Goianiense, hoje o único representante goiano no Brasileirão Série A, celebra e canta aos quatro cantos do mundo essa Conquista.
O Atlético Goianiense irá fazer um pedido formal à CBF pedindo a homologação dessa conquista como equivalente a uma série B, ou mesmo reconhece-la como um campeonato nos moldes do Torneio da Primeira Liga, reconhecido pela CBF como um campeonato nacional diferenciado da Copa do Brasil e do Campeonato Brasileiro. Sem dúvida mais uma estrela de Prata referente ao título do Torneio da Integração Nacional deve figurar na camisa do Dragão.
Um das provas inequívocas de que o Atlético pode fazer a reivindicação de reconhecimento desse título como equivalente a uma série B é que esse torneio foi apoiado pela Confederação Brasileira de Desportos (CBD) à época, atual CBF, e, portanto foi muito mais que uma competição amistosa, conforme trecho da Revista Placar:
VEM AÍ O “INTEGRAÇÃO”
Com este título, a Revista Placar deu a seguinte informação:
“Quando surgiu a ideia, foi um rebuliço em Goiânia. Mas, depois, as dificuldades foram aparecendo…”. Esta semana a grande noticia chegou, vindo simultaneamente do Rio e do Governo do Estado de Goiás: do Rio, a aprovação da CBD. João Havelange achou muito boa a ideia, prometendo oficializar o torneio, desde que prove ser rentável. E, ainda do Rio, a promessa do brigadeiro Jerônimo Bastos de que o CFD vai estudar uma fórmula de ajudar quanto aos transportes. Do governo goiano, a liberação de Cr$ 105.000,00 para as despesas de estada das delegações de outros estados. (Placar, 16/07/1971, pág. 29).
Alguns poderiam questionar que já ocorreu uma série B no ano de 1971 e não poderíamos ter dois campeões de títulos equivalentes no mesmo ano. Ledo engano. Nos anos de 1967 e 1968 a CBF reconhece dois campeonatos nacionais como correspondentes ao campeonato brasileiro da série A, a Taça Brasil e o Torneio Roberto Gomes Pedrosa, e em 1968 tivemos dois campeões da elite: Botafogo e Santos.
Poderíamos nos perguntar então se esse formato de Copa, com poucos jogos, poderia premiar um campeão nacional, e já respondo que sim. O Villa Nova de Nova Lima foi campeão da série B de 1971, fazendo 8 jogos, um a menos que o nosso Dragão Campineiro que fez 9 jogos no Integração Nacional.
E a representatividade do Torneio da Integração Nacional, poderia ser questionada? Muito menos. Ao contrário das séries B de 1971 e 1972 reconhecidas pela CBF, o Torneio da Integração Nacional teve representação de times das 5 regiões do país, a “B” de 1971 só tinha times de 4 regiões e a série B de 1972, conquistada pelo Sampaio Correia, foi pior ainda, foi um torneio só com times do nordeste, poderia no máximo ser chamada de Copa Nordeste mas é homologada como Campeonato Nacional da Segunda Divisão pela CBF.
E sobre a força dos times que disputaram o Integração? Será que vieram só times desconhecidos, “galinhas mortas” ? Com certeza não, praticamente os principais times dos Estados participantes, os que não estavam na “Série A” de 1971, vieram para jogar o Torneio Integração, vejamos: A Ponte Preta era a vice-campeã-paulista de 1970, o Fortaleza era o atual campeão do Torneio Norte-Nordeste de 1971, o Atlético havia sido campeão goiano de 1970 e o Goiás era o campeão de 1971 com o Vila Nova sendo o vice, o Fast do Amazonas vinha de um bicampeonato amazonense em 1970-71, a Desportiva tinha sido vice-campeã capixaba em 71, também o União Bandeirante havia sido vice-campeão paranaense naquele ano, o Fluminense de Feira de Santana era o vice-campeão baiano de 1971, o Náutico, que vinha de um fantástico hexacampeonato pernambucano no final da década de 60, havia sido vice-campeão estadual no ano anterior, também em 1970 o Botafogo da Paraíba havia sido campeão estadual, tivemos ainda o time do Campo Grande, do Rio de Janeiro, que viria a ser campeão da série B no início da década de 80 e também o tradicional clube do Maranhão, Moto Clube, que já naquela época ostentava 13 títulos estaduais. Ou seja, não é nada difícil provar a justeza do reconhecimento dessa grande conquista junto à CBF.
Não há que se discutir que esse Torneio, organizado e reconhecido pela Federação Goiana de Futebol, é muito mais importante na galeria de troféus dos clubes goianos do que qualquer Campeonato Goiano, Taça Brasil Central ou Copa Centro Oeste. E o melhor de tudo, foi um torneio onde os maiores rivais do Atlético participaram e ficaram de expectadores assistindo o Dragão ser campeão. Já pararam para pensar? Enquanto em 1971 o Goiás tinha só 2 títulos estaduais, era o time dos 33 torcedores, o menor da capital… o Dragão Campineiro, o clube do povo, já ganhava título nacional. Por isso que a tradição do time de Campinas é incomparável.
Por essa e por outras que precisamos celebrar os heróis rubro-negros, viva o elenco atleticano campeão do Torneio da Integração Nacional: Zé Geraldo, Raimundinho, Luizinho, Lico, Claudinho, Paghetti, Dadi, Dezoito, Poli, Pedro Bala, Beloianes, Nelsão, Vavá, Jota Alves, Marcos, Ronaldo, Dida, Tung e Celso. Técnico : Paulo Gonçalves.
Comunicação A.C.G
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